Nesta coluna que completou 8 anos em maio de 2023, a temática permanente foi a tecnologia, em suas mais variadas formas de uso, aplicação e influência na vida das pessoas. A maioria dos artigos versou sobre as vantagens desse instrumento, que possibilitou ao ser humano tornar-se a raça dominante no planeta.
Apesar da apresentação de um cenário de crescimento exponencial das ferramentas tecnológicas, o acesso ainda caminha em passos lentos, em diversos contextos. Analisando brevemente o cenário brasileiro, podemos rapidamente perceber o abismo existente entre parte da população que tem e não tem acesso a elas, ou que possui um acesso bem restrito aos principais artefatos tecnológicos “necessários” à “vida moderna”.
Tomemos como exemplo o “simples” acesso à internet. Segundo dados do IBGE de 2021, 15% dos brasileiros não o têm, o que pode até parecer pouco, mas representa quase 32 milhões de pessoas. Não é preciso dizer que, sem esse tipo de acesso, muitas tecnologias importantes, como redes sociais, aplicativos de comunicação, sistemas bancários, lojas virtuais, serviços públicos (FGTS, INSS, .GOV etc.), classificados on-line, sistemas de busca e os direcionados à cultura, arte, entretenimento, educação, entre outros, tornam-se inacessíveis.
A pandemia, por exemplo, escancarou um problema referente à falta de tecnologia que, certamente, não foi totalmente superado. De acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), em relação a dados coletados de setembro de 2020 a junho de 2021 com 3,6 mil escolas públicas e privadas, 93% das escolas municipais e 95% das estaduais relataram problemas de falta de celular, computador e internet para o ensino remoto; nas particulares, o percentual caiu para 58%.
Se expandirmos a análise para as tecnologias de ponta na área médica (cirurgias robóticas, fármacos e tratamentos individualizados geneticamente, procedimentos de altíssima complexidade) ou, ainda, para o domínio mínimo da inteligência artificial nos sistemas de tecnologia, computadores quânticos, uso da realidade aumentada, metaverso etc., o abismo existente entre as diferentes classes sociais se torna um paradoxo digno dos teoremas matemáticos.
Outras tecnologias mais sofisticadas, como as embarcadas em dispositivos cada vez mais tecnológicos, como carros, TVs, computadores, celulares, casas automatizadas etc., têm acesso ainda mais restrito, devido, claro, ao alto custo dos equipamentos que, para alguns públicos, não são importantes. As prioridades, em muitos casos, claro, são basicamente resumidas à moradia, alimentação, transporte e saúde, em nível básico de subsistência.
Assim, ao lado de ações direcionadas à sobrevivência humana, é importante que se intensifiquem as voltadas ao amparo e à assistência dos menos “abastados tecnologicamente”, os “sem-tecnologia”, afinal, a cidadania plena só poderá ser alcançada quando essa necessidade também for incorporada às básicas.
Prof. Dr. Evanivaldo C. Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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