No mundo moderno, o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico são os grandes pilares do crescimento econômico das nações. Entretanto, se considerarmos a forma como a pesquisa científica é conduzida atualmente, isto é, de maneira centralizada, podemos identificar uma série de características incompatíveis com a sociedade atual.
No modelo tradicional ou centralizado, a ciência é realizada por cientistas profissionais que são funcionários de universidades públicas ou privadas ou de grandes empresas. Segundo Tatiana Revoredo, especialista em aplicações de negócios, esse modelo apresenta três principais problemas.
O primeiro está relacionado à tomada de decisão e ao financiamento centralizados. Isso significa que quem define o que será pesquisado e qual o tamanho do orçamento não é o cientista, mas um pequeno grupo, pertencente a órgãos públicos ou privados. Assim, com medo de perder o financiamento, muitos pesquisadores acabam por focar em pesquisas que seriam mais prováveis de receber dinheiro, mesmo que elas não sejam tão importantes assim.
O segundo problema diz respeito à metodologia e transparência de dados. De fato, um dos pilares da ciência é a replicação, ou seja, outros cientistas devem ser capazes de chegar ao mesmo resultado de uma dada pesquisa, usando a mesma metodologia e os mesmos dados. Porém, como muitas pesquisas têm interesses exclusivamente financeiros ou políticos, há organizações que publicam e impõem seus resultados, mas não revelam a metodologia, nem os dados. O resultado disso é uma torrente de pesquisas redundantes, mal gerenciadas e nebulosas.
Por fim, há o controle das publicações e o desincentivo às revisões. Por padrão, antes de ser publicado, um artigo científico deve passar pela revisão de colegas não remunerados. Isso causa atrasos, além de publicações com informações erradas ou até mesmo com viés de confirmação, ou seja, que apenas reforçam uma corrente de pensamento, não abrindo espaço para ideias contrárias. Ademais, depois de publicadas, a maioria das pesquisas não ficam disponíveis ao público, sendo necessário pagar planos de assinaturas para as editoras ou comprar artigos individualmente.
Esses problemas motivaram o surgimento do movimento Open Science (Ciência Aberta). Esse movimento propõe tratar o conhecimento científico como um bem público, que deve ser disponibilizado de maneira gratuita, com o objetivo de promover a replicabilidade e, consequentemente, novas ideias e o avanço da ciência.
Usando a Open Science como base, surge o movimento DeSci, sigla em inglês para Decentralized Science ou Ciência Descentralizada, em português. Esse movimento propõe a criação de um ecossistema digital em que cientistas possam compartilhar livremente suas pesquisas com o público em geral. Assim, eles poderão trocar conhecimento e dados com outros cientistas, além de obterem financiamento de diversas fontes, inclusive de pessoas comuns, que mais tarde podem tornar-se sócios-proprietários de possíveis produtos criados mediante a pesquisa. Isso cria um modelo descentralizado e resistente ao viés de confirmação, abrindo espaço para pesquisas não convencionais e trazendo mais transparência e acessibilidade ao conhecimento científico.
De fato, a essência do movimento DeSci é unir diferentes cientistas, de diferentes países, mas com os mesmos projetos, e tornar uma pesquisa compartilhada economicamente viável para todos. Tudo isso de maneira independente, transparente e acessível a todos, inclusive ao cidadão comum. Isso com certeza vai revolucionar a ciência nos próximos anos.
Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Professor e Coordenador do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales