A inteligência artificial (IA) é um tópico frequente nesta coluna, mas qual é a sua verdadeira essência? À primeira vista, pode parecer que a IA é simplesmente um programa de computador. Contudo, essa descrição inicial esconde uma complexidade notável.
Consideremos uma analogia com o cérebro humano, que possui aproximadamente 86 bilhões de neurônios interligados em uma rede intricada. Desde o nascimento, somos treinados para aprender, estabelecendo associações entre objetos, seus conceitos e as palavras que os descrevem. Por exemplo, ao ver um cachorro, instantaneamente o identificamos como tal, e com o avanço em nossa educação, somos capazes de classificá-lo cientificamente em categorias biológicas específicas.
Da mesma forma, a IA, embora baseada em programas de computador, é muito mais do que código. Ela incorpora algoritmos avançados capazes de aprender, adaptar-se e desenvolver-se. A IA não se limita a executar tarefas programadas; ela evolui, analisando grandes volumes de dados e melhorando com o tempo, de maneira análoga ao aprendizado humano. Quando treinamos um modelo de IA, expomos a uma vasta quantidade de dados previamente categorizados. Esse processo permite que o algoritmo desenvolva correlações estatísticas de forma a identificar padrões de maneira correlata ao cérebro humano.
Considere, por exemplo, o jogo de xadrez. Cada jogador inicia com 16 peças, e cada movimento cria uma árvore de possibilidades. Um grande mestre pode antecipar de 4 a 6 jogadas no início e até 15 jogadas mais adiante no jogo. Enquanto os humanos têm limitações em processar rapidamente grandes volumes de cálculos ou situações de explosão combinatória, a IA pode excelentemente manusear essas complexidades.
Para a construção de modelos de IA, os cientistas se utilizam de inspirações da natureza, como as redes neurais artificiais que imitam o cérebro humano e os algoritmos genéticos que modelam a evolução biológica. Esses sistemas computacionais, baseados em probabilidade e estatística, estabelecem correlações entre entradas de dados e saídas desejadas, permitindo, por exemplo, que um algoritmo reconheça seu rosto em uma postagem nas redes sociais.
Uma das aplicações em que a IA tem sido fundamental é no campo de descoberta de medicamentos. No final do ano passado, cientistas por meio da utilização de uma IA de aprendizado profundo descobriram uma nova classe de antibióticos capazes de combater bactérias resistentes aos medicamentos, como a Staphylococcus aureus.
O Centro de Controle de Doenças – CDC dos Estados Unidos publicou um estudo em 2019, referente a dados mundiais, no qual se identifica 4,9 milhões de mortes associadas à resistência bacteriana e, dessas, 1,3 milhões de mortes tiveram a resistência bacteriana como causa direta da morte. A última vez que uma nova classe de antibióticos foi descoberta tem 60 anos e, para isso, os cientistas analisaram aproximadamente 12 milhões de componentes químicos e suas combinações; agora, imagine a quantidade de combinações e se essa tarefa fosse realizada sem o poder dos modelos de IA.
Portanto, enquanto exploramos as vastas possibilidades que a IA oferece à sociedade, devemos também considerar os desafios éticos e responsabilidades de sua aplicação, conforme já discutido em artigos anteriores desta coluna. A IA não é apenas um avanço tecnológico, é um novo horizonte na nossa interação com o mundo, merecendo uma reflexão cuidadosa sobre seu papel em nosso futuro.
Prof. Me. Jefferson Passerini
Docente da Fatec Jales