A Interação Humano-Computador (IHC) é uma disciplina subjacente da Ciência da Computação que envolve o design, a prototipagem, a implementação e a avaliação de sistemas interativos. O objetivo dessa disciplina é criar meios para que seres humanos possam usar os recursos computacionais de maneira eficiente, observando-se aspectos como acessibilidade, usabilidade e ergonomia.
Além dos dispositivos físicos (hardware), a IHC também envolve a concepção de GUIs (Graphical User Interface – “interface gráfica do usuário”, em tradução livre), ou seja, elementos gráficos como ícones, botões, janelas, botões, textos interativos e outros elementos apresentados nas telas dos dispositivos eletrônicos. De fato, as GUIs representam uma grande evolução na usabilidade dos computadores e outros dispositivos eletrônicos, visto que é por meio delas que o poder das máquinas se tornou acessível a usuários leigos de maneira simples e visual.
Aponte e clique ou simplesmente toque no ícone para a magia acontecer, certo? Errado! Essas ações, corriqueiras para a maioria das pessoas, são apenas uma realidade inalcançável a pessoas com limitações na função motora, principalmente as que sofrem de quadriplegia (condição médica em que há perda total ou parcial da função motora e sensorial dos membros superiores e inferiores, além do tronco).
Apesar da existência das interfaces por comando de voz, pessoas quadriplégicas não conseguem usar computadores, tablets e outros dispositivos eletrônicos em sua plenitude, devido à natureza das interfaces homem-máquina (IHM), que são extremamente centradas nos membros superiores dos usuários. Nesse contexto, surge a ideia de um dispositivo capaz de capturar os movimentos da língua e traduzi-los em comandos que serão enviados a dispositivos eletrônicos via conexão Bluetooth. A língua é o novo mouse!
Nesse contexto, a startup Augmental criou um dispositivo identificado como MouthPad^. Ele é fixado no céu da boca como um aparelho odontológico móvel e possui uma área sensível ao toque, além de sensor de movimento, permitindo controlar dispositivos usando os movimentos da língua ou da cabeça, segundo a preferência do usuário. Segundo seus criadores, a ideia é expandir as capacidades, criando controles sofisticados que usam a respiração e até a mordida dos usuários.
No site oficial da Augmental, há um trailer impactante e emocionante, mostrando como pessoas quadriplégicas estão mudando suas vidas por meio do dispositivo Mouthpad. Coisas normais como atender uma chamada telefônica, usar o computador para jogar, usar aplicativos profissionais ou mesmo aplicativos de mensagens são apenas algumas das muitas possibilidades que o Mouthpad trouxe a pessoas com limitações nos membros superiores. Um dos usuários afirmou que o dispositivo o fez “sentir-se humano novamente”. Um outro usuário tornou-se gamer profissional de jogos do gênero FPS (First-Person Shooter – “tiro em primeira pessoa”, em tradução livre), adotando o apelido “Oral Assassin”.
Mesmo ainda em fase de testes, com uma lista de espera global e com muitas limitações, sendo uma delas a baixa autonomia (2 horas de carregamento para 5 horas de uso), acredito que o Mouthpad^ é mais uma daquelas tecnologias disruptivas, ou seja, que quebram paradigmas e inspiram a criação de novos conceitos e tecnologias.
Olhando com mais atenção para as capacidades do dispositivo, é possível imaginar usuários sem limitações usando-o como uma “terceira mão”, expandindo as possibilidades de uso de diversos dispositivos e, talvez, a produtividade e a criatividade dos seus usuários.
Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales