A Revolução Industrial reconfigurou a percepção de trabalho no século XIX por meio da mecanização das etapas de produção. Entretanto, marcou, também, o início da adultização de crianças e adolescentes na sociedade, expondo-os a rotinas alienadas desde a menor idade. No Brasil, atualmente, esse contexto é promovido pela monetização das redes sociais, como as “trends” das chamadas “skincares”, cujo foco têm sido, sobremaneira, o público infanto-juvenil.
O termo “skincare” é derivado do inglês, “skin” (pele) e “care” (cuidado), e está em alta nos vídeos, via aplicativos como Instagram e Tik Tok, feitos por mini-influenciadores. As “trends”, sinônimo de popularidade/ tendência, das “skincares” podem apresentar um lado negativo dos cosméticos, que não é amplamente divulgado.
Em relação a isso, podemos afirmar que os smartphones e redes sociais promovem ampliações de fontes de renda por meio da monetização das mídias digitais. Esse lucro é muitas vezes oriundo de propagandas pagas por grandes e pequenas marcas, não dependendo, obrigatoriamente, da popularidade dos influencers. O público menor tem se tornado vítima desse processo de marketing, sendo usado como moeda de troca em razão das inúmeras visualizações pelos apps: há, sem dúvida, uma exploração da inocência.
Segundo uma pesquisa publicada na Revista Enviomental International por pesquisadores norte-americanos e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP (2018), os produtos cosméticos usados no cuidado pessoal contêm altos níveis de parabenos e benzofenomas, duas classes de disruptores endócrinos que podem alterar o equilíbrio hormonal. Dessa forma, prejudica não só o desenvolvimento intelectual, mas também promove o desequilíbrio hormonal na infância e adolescência.
Embora haja várias marcas que têm buscado produtos com efeitos menos nocivos, grande parte da população brasileira se apega ao preço mais acessível e ao que é divulgado, o que nem sempre prima pela qualidade e saúde. Desse modo, esse cenário midiático dificulta a formação/proteção dos menores, haja vista que nem sempre são monitorados como deveriam ser (e aqui são várias as adversidades).
Publicidades infantis já foram proibidas, mas isso ainda não tem sido suficiente, porque há as camuflagens persuasivas utilizando outras ideologias e a tecnologia tem sido, infelizmente, uma aliada. O monitoramento de produtos, tanto brasileiros como importados, pelos órgãos responsáveis, além dos cuidados da família na orientação e na seleção cuidadosa desses podem contribuir, não permitindo que patrocínios irresponsáveis invadam massivamente crianças e adolescentes.
Profa. Ma. Alessandra Manoel Porto – alessandra.porto@fatec.sp.gov.br
Docente Fatec Jales – fatecnologia@fatecjales.edu.br