Em abril deste ano foi publicado um relatório pela FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) intitulado “2050: A escassez de água em várias partes do mundo ameaça a segurança alimentar e os meios de subsistência” o qual teve como foco principal os desafios na busca de melhores políticas e mais investimentos públicos e privados, incluindo a adaptação da agricultura às alterações climáticas.
Ao que parece tal documento vem de encontro com uma realidade cada vez mais presente no Brasil tido por alguns até pouco tempo como uma fonte inesgotável de água devido aos seus atributos naturais, como as grandes bacias hidrográficas e mananciais subterrâneos.
Tal concepção, entretanto, se mostrou frágil nesse último verão de 2014, fato amplamente evidenciado pela mídia no que diz respeito à região sudeste principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, reconhecidamente maiores economias do país.
O relatório considera que haverá água para produzir alimentos e abastecer uma população estimada em 9 bilhões de seres humanos, mas salienta que além do volume de consumo subir proporcionalmente ao da população, a deficiente gestão dos recursos naturais, aliada ao consumismo desmedido poderá afetar de forma considerável tanto a qualidade da produção, leia-se segurança alimentar, quanto à sustentabilidade dos principais setores produtivos de alimentos.
O binômio segurança alimentar e recursos hídricos segue despertando a atenção dos especialistas da área uma vez que o agronegócio é o maior consumidor de água do mundo nos seus vários segmentos como a produção agrícola, pecuária e da pesca. Obviamente, o crescimento da população deverá aumentar significativamente a demanda por alimentos, algo estimado em 60% ou mais e, como consequência direta, o consumo de recursos hídricos deverá ser elevado em até 65%.
Talvez o fato mais alarmante seja que em várias regiões produtoras do mundo, como na Ásia e Oceania, a utilização de mananciais subterrâneos já tem excedido a capacidade de reposição natural o que deverá causar um aumento dos atuais 40% de pessoas que já sofrem com escassez de água para 66% agravando não somente a produção de alimentos como a própria economia do planeta, já que dependemos de água para outros setores produtivos como o de serviços, de saúde e o industrial.
Aliado a essas previsões nada animadoras o relatório aponta, ainda, que os fenômenos adversos como o aumento de ciclones, a falta ou o excesso de chuva, seca, entre outros advindos principalmente do aquecimento global deve acentuar a crise hídrica global.
Dentre as possíveis soluções para esse problema, aponta-se o uso da tecnologia como a dessalinização da água do mar ou mesmo a extração de água em geleiras além, é claro, do uso consciente e sustentável dos recursos já existentes. Especificamente, o setor do agronegócio já tem evoluído significativamente no que diz respeito ao uso desse recurso natural nos seus processos produtivos, mas mesmo assim, ainda carece de mais investimentos no segmento de tecnologia.
Independentemente do caminho que resolvamos seguir, o fato é que devemos despertar, ainda que tarde, para a manutenção desse item que talvez seja o mais importante para a sobrevivência da raça humana.