Quem nunca se encantou com as propagandas, foi logo conhecer o produto de perto e levá-lo consigo? Cada vez mais, somos surpreendidos pelas cores e imagens que constituem as propagandas veiculadas tanto na TV como na mídia impressa. Sem dúvida, a criatividade tem sido característica fundamental para a funcionalidade do gênero textual, que é de divulgar para vender o produto ou serviço. Mas, afinal, como têm sido inseridas essas ideologias capitalistas nos bastidores da produção de uma propaganda para que o investimento, por vezes muito alto, tenha retorno garantido? Até que ponto elas são “aceitas” por órgãos fiscalizadores, como o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar?
Não faz tanto tempo, as exuberantes propagandas de cigarro eram destaque nos horários nobres das redes televisivas: a presença das belas mulheres, homens bem apessoados, fazendas verdejantes, carros arrojados, cavalos de raça... Ora, era preciso “ocultar” os malefícios do tabaco por meio de imagens que derramavam beleza e saúde. Após tantas críticas, o governo federal, no ano de 2000, proibiu essa investidura pesada do mercado tabagista como propaganda.
As propagandas com foco no público infantil são outros exemplos da falta de “respeito” com o próximo, tanto com a criança, inocente, que deseja o produto (brinquedo, roupa, doce), como com quem custeia esse desejo, haja vista que nem todos os lares onde são veiculadas essas publicidades podem patrocinar a vontade dos pequenos. A partir de denúncias ao Conar, muitas delas foram editadas ou tiradas do ar.
Não podemos deixar de mencionar também os comerciais de cerveja que têm investido “pesado” na divulgação: são belas mulheres, famosas e, de modo geral, muito sensuais; atores renomados e de uma representação social e midiática “idônea” (se assim podemos definir). Embora seja uma das publicidades que mais apresentam denúncias ao Conar, dificilmente será banida... Há a edição de textos, de imagens, de garotas e garotos propagandas, mas elas estão lá, cada vez mais atrativas e persuasivas.
É muito relevante entender que tanto o consumidor quanto o produtor podem reclamar ao Conar, que é constituído por uma equipe de analistas para apreciar as denúncias e ver se são procedentes ou não, entretanto, pode ser aí o nó da questão. Quais ideologias também estão impressas nessas análises, já que, em muitas delas, nem sempre o consumidor reclamante vence, embora haja evidências de que há valores sendo distorcidos?
Deixar de reclamar e aceitar o que nos é veiculado como sendo “bonecos” manipulados por ideologias capitalistas, que veem no consumidor apenas cifras, não foi nem continuará sendo a melhor saída. Embora corramos o risco de não sermos ouvidos, imaginem se não denunciássemos. Como estariam, então, as telinhas nos poucos momentos que ainda nos restam após um árduo dia de trabalho? É preciso dizer não aos conteúdos impróprios que evocam a sensualidade, o preconceito, o racismo e o bullying, e a arma é a propaganda da nossa voz.
Profª. Me. Alessandra Manoel Porto
Docente da FATEC Jales
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