Quem durante esta semana não se alimentou de algum produto geneticamente modificado? Pois é, os alimentos transgênicos estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia ou, melhor, em nossas mesas. Esses alimentos, também chamados de OGMs (organismos geneticamente modificados), começaram a ser cultivados nos EUA na década de 90, quando se difundiram para outros países de forma acelerada. Segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), o Brasil é o segundo país que mais produz esse tipo de alimento no mundo e o que mais cresce na utilização dessa tecnologia, chegando a mais de 90% do total da área cultivada com milho e soja. Vale destacar também a produção de outros alimentos geneticamente modificados, como o arroz, feijão, mamão, abobrinha, trigo e centeio, que a cada dia ganham mais presença em nossas lavouras.
A transgenia é um processo de isolamento de um gene de um determinado organismo que apresenta características desejadas, com posterior inserção na cadeia genética de outro organismo de espécie diferente, que irá expressar essas características. Atualmente as principais transgenias na agricultura são referentes a resistência de certas culturas a alguns tipos de pragas e herbicidas, o que proporciona indiretamente aumento de produtividade.
No entanto, surge a grande questão da maioria das pessoas: os transgênicos fazem mal à saúde? Segundo a CTNBio, órgão que regulamenta os estudos e a liberação dos OGMs no Brasil, a resposta é “não”. Porém, vários questionamentos surgem a respeito da eficiência dos métodos de avaliação utilizados e a influência das multinacionais detentoras dos processos de transgenias nos resultados das avaliações realizadas.
Como engenheiro agrônomo, não sou contra a produção de alimentos transgênicos, uma vez que toda tecnologia, desde que bem empregada, visando ao desenvolvimento do setor do agronegócio, pode ser bem-vinda. Porém, minha contrariedade e indignação quanto ao tema estão relacionadas à forma massiva como vem sendo realizada sua liberação no país, já que, em menos de duas décadas, esse tipo de alimento já toma conta de grande parte das áreas cultivadas e, consequentemente, da alimentação dos brasileiros. Por se tratar de um alimento que teve seu material genético alterado de forma artificial, será que esse período é suficiente para garantir que um consumo em longo prazo não pode acarretar mutações e promover o desenvolvimento de certas patologias? E se futuramente for comprovado algum efeito adverso à saúde humana, como vamos reverter essa dependência de produção transgênica que vem sendo instalada por multinacionais no país e voltar a uma produção mais convencional?
São essas questões que nos levam a crer que, em vez de massificar a produção de OGMs para aumentar a produtividade das culturas, primeiramente deveria investir-se em alternativas para diminuir a quantidade de alimentos desperdiçados por ano e melhorar sua distribuição àqueles que passam fome ou, ainda, pensar no manejo integrado para o controle de pragas e doenças, com preferência para o controle biológico, como era utilizado, uma vez que a própria natureza consegue como ninguém manter o equilíbrio dos ecossistemas garantindo que os ambientes sejam produtivos. Como diria um velho amigo, às vezes é necessário voltar ao passado para encontrar soluções futuras.
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