Um dos assuntos mais debatidos no mundo da tecnologia no cenário atual é, sem dúvida alguma, os veículos autônomos. Capazes de dispensar total ou parcialmente o motorista, esses “veículos robôs” usam diversos recursos tecnológicos de hardware e software, tais como sensores e algoritmos de Inteligência Artificial, uma verdadeira maravilha tecnológica. Em um futuro não muito distante, poderemos entrar em nosso veículo e, apenas com um simples comando de voz, indicar o local a que queremos chegar. Após isso, ele nos levará até o destino com a máxima segurança, obedecendo aos limites de velocidade e evitando acidentes, tudo isso enquanto relaxamos, participamos de uma reunião ou assistimos a um vídeo no Youtube. Empresas de tecnologia como a Tesla, Google e Apple, além das já tradicionais fabricantes de veículos, estão destinando alguns milhões de dólares a pesquisa e desenvolvimento para essa nova indústria com potencial de movimentar U$ 7 trilhões até o ano de 2050.
Além de diversas questões éticas, sociais, políticas e de infraestrutura que envolvem a fabricação e, principalmente os testes dos veículos autônomos, surge outra questão que pode inviabilizar essa maravilha tecnológica: a educação, ou melhor, a falta de educação no trânsito. Isso porque os veículos autônomos usam algoritmos de Inteligência Artificial para aprender com o que acontece no ambiente em que ele está inserido. Por exemplo, se um pedestre invade a rua enquanto o semáforo está aberto, o veículo deverá parar por questões de segurança, mas se essa situação se repetir muito, ele aprenderá que pessoas invadindo a rua com o farol aberto é a regra e não exceção. Acionar a buzina sempre que uma pessoa atrapalha a passagem, trocar de faixa, realizar a conversão sem usar a seta e outras manias que nós temos poderão fazer com que as máquinas aprendam tudo errado.
Steven Choi, engenheiro da divisão de carros autônomos do Uber e ex-funcionário do Google, esteve no Brasil recentemente para uma palestra. Ao se deparar com nosso trânsito caótico, afirmou: “Muitos carros passando no farol vermelho, pessoas atravessando fora da faixa. Os brasileiros precisam seguir as regras para ter carros autônomos; caso contrário, não vai funcionar”. Segundo Choi, apesar de a nossa falta de educação no trânsito ser um grande problema, o Brasil está preparado para receber os veículos autônomos, visto que a tecnologia ainda está engatinhando e certamente surgirão novas técnicas que farão com que os veículos aprendam do jeito certo, independentemente do comportamento humano.
Segundo Choi e demais entusiastas dessa nova indústria, o principal objetivo dos veículos autônomos é salvar vidas, visto que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), acidentes de trânsito são a maior causa da morte dos jovens entre 15 e 29 anos no mundo. Apenas no Brasil, em 2014 houve 8.227 mortes em estradas federais, o que causou um prejuízo de R$12,3 bilhões aos cofres públicos. Ademais, recentemente um levantamento do Detran-SP mostrou que 94% dos acidentes de trânsito acontecem devido à falha humana, ou seja, poderiam ser evitados se os motoristas fossem mais responsáveis. Segundo os especialistas, os veículos autônomos poderiam evitar a maioria desses acidentes, poupando vidas e trazendo economia aos cofres públicos.
A viabilização dos veículos autônomos deve passar pela burocracia do Estado, visto que, além de fiscalizar e regulamentar, antes deverão ser criadas leis que permitam testes mais incisivos e perigosos em ambientes reais. Entretanto, diferente dos países desenvolvidos, muito pouco se fala sobre o assunto no Brasil. O advento dos veículos autônomos comerciais já desponta no horizonte, porém, há questões complexas que deverão ser enfrentadas antes, como a educação e a infraestrutura do trânsito, além do desemprego em massa que essa nova indústria poderá causar.
