Variação linguística: assunto polêmico, causa de preconceito social. Entender a variação de uma língua exige re(conhecer) que não existe apenas um modo de se falar o idioma, ou melhor, que existem outros modos além da consagrada “norma padrão”. Há muitas razões para que uma língua seja constituída por muitas variações, no entanto, nem todas são bem “aceitas”, chegando ao preconceito linguístico.
Em diferentes lugares do mundo, o que une os povos de cada região são os idiomas criados pelos diferentes arranjos linguísticos, os chamados dialetos. Dominado pela miscigenação, o Brasil é um cenário perfeito para a manifestação dessas variações linguísticas, produtos da cultura diversa que constitui a vasta extensão das terras brasileiras. Isso é enriquecedor porque traz as ideologias e peculiaridades todos os pontos do país na fala e também na escrita de um povo.
As variações estão ligadas aos contextos históricos, geográficos e socioculturais, nos quais os falantes estão ingressados. Entendendo que a função da língua é a comunicação, os “ajustes” surgem conforme a necessidade da interação social. Segundo Biderman (1899), a língua é responsável por transmitir a herança cultural de um povo que carrega aspectos da vida, das crenças e valores de uma sociedade.
Assim, é totalmente preconceituoso vincular a essas variações rótulos de erro gramatical e falta de alfabetização, haja vista que tudo se configura a um desenvolvimento e evolução de adaptações culturais. Ainda, toda essa denominação de melhor ou pior não se vincula somente ao preconceito linguístico trazido pela crença de existir uma só língua portuguesa correta, mas principalmente, ao preconceito social, associado sempre à região que mais predomina menor poder econômico – dinheiro passa ser sinônimo de língua culta/padrão, infelizmente.
É fato não podermos nos esquecer das diferentes funções que a escola desempenha e, dentre elas, o cuidado com a língua – a língua culta deve ser “ensinada e aprendida” porque muitas comunicações dependem dessa “unicidade linguística” (se assim podemos dizer), mas não como polarização entre o culto e o informal, não como superioridade, mas como mais uma oportunidade de letramento em esferas sociais que precisam dessa condição linguística. Há “brigas” teóricas entre linguistas e gramáticos até hoje... Marcos Bagno, linguista brasileiro, discute muito sobre isso, e como discute!
Entendemos não existir o certo ou errado quando se fala em língua: há contextos que requerem uma língua mais culta e, outros, menos formais... Devemos sim, apagar mitos da educação brasileira sobre tentar manter um status de uma linguagem padrão e superior vinda pela norma linguística de Portugal; a língua é viva e não pode ser utilizada como algo engessado e sem funcionalidade.
É o princípio da comunicação e esta mesma comunicação não pode ser usada para “descartar” o outro; ser chique é ser versátil, é saber onde empregar isso ou aquilo ou então teremos de barrar os estrangeirismos? Mas isso já é outra prosa pra um outro momento.
Milena Flausino de Gouveia - Aluna do 5º semestre do Curso de Tecnologia em Gestão Empresarial da Fatec Jales
Prof. Me. Alessandra Manoel Porto – alessandra.porto@fatec.sp.gov.br
Docente Fatec Jales – fatecnologia@fatecjales.edu.br