A charge é definida, segundo Ferrreira (2004, p. 451), como a “representação pictórica, de caráter burlesco e caricatural, em que se satiriza um fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento da sociedade”. A abordagem traz claramente o significado do gênero textual “charge”, no entanto muitas delas são interpretadas de modo superficial, por públicos distintos, o que nos leva a observar que realmente se exige do leitor uma experiência prévia, que extrapola o conhecimento da imagem e até mesmo da língua, para se construir o sentido do texto.
Por se tratar de um texto crítico, as charges são textos bem atuais e parecem ter “data de validade”, circulando em jornais, revistas e materiais didáticos também. Sem dúvida, sua particularidade é o teor crítico e denunciativo, recheado de doses robustas de humor (até ofensivos, muitas vezes) que requerem do chargista, profissional que cria as charges, tanto habilidades com uma escrita concisa, mas extremamente conotativa, como também com o desenho, ou melhor, com as caricaturas.
Muitas vezes, interpretamos as charges superficialmente ou passamos adiante nossa leitura por não conseguirmos compreender aparentemente nada. Isso acontece porque, nem sempre, a escrita e a imagem, denominados textos verbais e não verbais, respectivamente, conseguem levar ao leitor o que realmente seria o objetivo daquela comunicação.
É nesse momento que recorremos ao chamado “contexto” ou, para outros, “condições de produção” de um discurso, ou seja, a mensagem ali registrada carece ser situada no momento histórico, isso mesmo: o que está acontecendo no país ou no mundo e buscar uma correlação com esse texto enigmático.
Dentro de milhares de charges, exemplificamos uma delas, a qual traz a caricatura de Tony Ramos em um mercado, passando em frente ao açougue, ao que o atendente pergunta: “Não vai levar carne hoje, seu Tony”; e ele responde: “Virei vegano”. Veja, não bastaria dominar o código língua portuguesa e o significado da palavra vegano, tampouco saber que no mercado há uma seção denominada açougue. Se parássemos aí, nossa compreensão ficaria no plano da superficialidade.
Buscar contextualizar a charge é o primeiro passo para a compreensão: ela foi publicada em março de 2017, momento em que a JBS (empresa proprietária da marca Friboi), passava por uma investigação federal denominada “Operação Carne Fraca”; Tony Ramos era o “garoto propaganda” da marca cujo slogan era “carne de qualidade tem nome”. No ápice da investigação, a propaganda parou de ser veiculada, ou seja, o Tony Ramos “sumiu”. Fica mais fácil compreender a charge agora?
Como vimos, o saber humano, além da escola, tem outras fontes promotoras: ler jornais, assistir a bons documentários, ter curiosidade investigativa, tudo isso constitui saberes que nos ajudam a compreender com mais segurança as entrelinhas de uma comunicação. Vamos nos tornando leitores mais experientes, capazes de enxergar além da imagem e da escrita.
Prof. Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.