Carlos Drummond de Andrade escreveu, por meio de um discurso crítico, o texto “Da utilidade dos animais” e, assim, parafraseando o autor, abordaremos um pouco “Da durabilidade das coisas”. Não raro ouvimos e também falamos que as “coisas de hoje não duram nada”, “minha panela nova já estragou”, “nem terminei de pagar e o ferro de passar já não esquenta mais”, isso e aquilo... Não querendo propor analogia entre os animais do poeta mineiro e as coisas nossas do dia a dia, mas por que elas possuem tão pouco tempo de vida útil?
O comportamento do consumidor tem ficado cada vez mais modificado diante das inúmeras estratégias de marketing que têm explorado todo o nosso sistema sensorial, e, muitas vezes, realmente levamos para casa um produto mais aprazível aos nossos olhos do que funcional. Todavia, cremos que essa não poderia ser uma justificativa plausível, haja vista que pagamos por um objeto e o mínimo que se espera é ele funcionar.
Há quem afirme também que os produtos estrangeiros entraram em nossas casas e empresas, sejam adquiridos por meio físico ou pelo e-commerce, prometendo sofisticação e revolução. Assim fomos abrindo nossos braços a eles, deixando a qualidade dos nacionais por impulsos já ditos, os tais sensoriais.
A preocupação com o meio ambiente também tem recebido créditos nessa fatia da durabilidade. Segundo os defensores, para se evitar a extração de matéria-prima, a busca por alternativas nem sempre garante a mesma durabilidade dos produtos, mesmo assim ficam motivados porque podem ofertar um produto por menor preço. Nesse caso, torna-se indiscutível a questão da qualidade – se pago barato pode durar pouco. Seria um tipo de acessibilidade mesmo que efêmera.
Outro ponto muito discutido é o da “obsolescência programada”, custeada pelo capitalismo do qual fazemos parte. Não é saudosismo remetermos ao passado para compararmos a durabilidade das coisas, porque, pela perspectiva consumista, um produto torna-se ultrapassado ou não-funcional de modo muito rápido, até propositalmente, para que novos produtos sejam adquiridos – nesse cenário, o conserto, muitas vezes, equivale a mais de 50% do valor do produto, fator que o leva ao descarte. Muitas empresas têm sofrido denúncias apontando produtos com “data de validade reduzida”; há, inclusive, organizações que já incorporam práticas pela “Sem Obsolescência Planejada (SOP)”, o que é justo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), os produtos que menos duram são os eletrônicos e os eletrodomésticos. Parecem conter mesmo um prazo de validade, em média três anos; depois, necessitam de reparos, os quais, em contrapartida, vão na contramão da responsabilidade ambiental, já que, em vez do conserto, são lançados ao descarte.
Alguns questionamentos são feitos, entretanto já sabemos as respostas – a vida útil de um produto está estritamente ligada à sociedade capitalista que paga um preço alto. Nossa postura, mesmo constituída de toda essa ideologia consumista, é selecionar empresas que realmente invistam em produtos que possam ser reparados a preços justos, que utilizem matérias-primas alternativas com baixo impacto ambiental e, por fim, que não estejam pactuadas à obsolescência programada de modo tão drástico, já que é próprio do ser humano a inovação; a indústria não precisaria acelerar tanto!
Prof. Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.