Você já se pegou trabalhando em frente a uma tela de computador, interagindo tanto com pessoas fisicamente presentes no ambiente, quanto com outras no ambiente virtual, correto? Nada de mais até aí, concordo, mas, em tempos atuais de pandemia e provavelmente no futuro de médio prazo pós-pandemia, esse nível de conectividade tem dado saltos impressionantes, para não dizer assustadores.
Não é incomum a pessoa estar no ambiente físico rodeado de duas, três ou mais pessoas, com o computador conectado a múltiplas plataformas de comunicação (WhatsApp Web, Telegram, etc.), com diversas contas de e-mail abertas em vários navegadores, redes sociais (como Facebook, Instagram, TicToc, etc.), intranets, dispositivos de teleconferência (Google Metting, Microsoft Teams, Zoom, etc.), além dos sistemas necessários ao próprio trabalho (programas diversos, office, etc.), e tudo simultaneamente.
Tal condição nos expõe a um sistema de hiperconectividade alucinante, algo que os especialistas consideram até desumano. O nosso cérebro até tenta acompanhar esse ritmo de conectividade multitarefa, mas, diferentemente das máquinas, não fomos preparados, não fomos projetados, mentalmente, para isso. A tecnologia tem nos forçado a essa realidade, mas as consequências dessa condição, ainda em estudos por diversos pesquisadores, são relativamente desconhecidas.
Do ponto de vista psicológico, alguns efeitos já podem ser percebidos, como a falta de foco nas ações envolvidas no trabalho, cansaço extremo acompanhado de fadiga mental (síndrome de burnout), depressão e outros distúrbios relacionados a ansiedade, entre outros problemas.
Quanto aos aspectos profissionais, alguns estudos apontam para a perda de produtividade, aumento da incidência de acidentes de trabalho, redução qualitativa da produção, principalmente de serviços, e queda da competitividade, está diretamente relacionada à hiperconectividade.
Por fim, e não menos importante, em relação à chamada qualidade de vida, o excesso de conectividade nos gera aquela sensação de estarmos trabalhando demais, porém produzindo pouco, gastando muita energia na obtenção de pouco resultado. Sabe aquele sentimento de que “a vida está passando e não estamos vendo”? Pois é, aparentemente, estamos conectados a tudo, mas um vazio nos insiste em dizer que não conseguimos manter conexões reais, verdadeiras, efetivas e afetivas, com quase ninguém. Usar o WhatsApp para avisar a seu filho que está no quarto que o jantar está na mesa não pode ser considerado, de fato, estar afetivamente conectado.
Estamos entrando em uma nova fase da hiperconexão, em que os carros, geladeiras, relógios, vestimentas, televisores e outros objetos também farão parte da conexão.
Será que estamos preparados e iremos resistir à Ultraconectividade?
Prof. Dr. Evanivaldo C. Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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