O escritor Luís Fernando Veríssimo, na crônica “O lixo”, brinca com a intimidade dos personagens a partir do que é descartado no lixo de cada um deles. Verdadeiramente, o lixo, diariamente, desnuda o que acontece dentro de nossas casas, de modo que, por onde vamos, deixamos nossas “pegadas”. “Lugar de lixo é no lixo”, afirma o clichê, mas será que estamos conseguindo cuidar adequadamente do lixo simples, do nosso dia a dia? O que diria o escritor ao analisá-lo?
Como já sabemos, com o capitalismo exacerbado, tivemos que nos adaptar às comodidades oferecidas por ele e bem pagas por nós – trabalha-se muito a fim de se conseguir manter os compromissos em dia, e daí, toda praticidade oferecida pelos inúmeros descartáveis é muito bem-vinda, de modo que não resta dúvida: até o maço de cheiro verde vem amarrado com uma borrachinha que tão cedo vai para o lixo!
E não paramos aí: com a estiagem, além das paisagens dos rios serem afetadas com a baixa nos níveis de água, somos impactados com o lixo levado de nossas casas para dentro deles e, agora, à mostra, escancarado ali; com a chegada das chuvas, os bueiros e galerias, em vez de “sufocados” pelo volume de água, regurgitam todo o lixo sugado jogado nas ruas.
O Instituto Brasileiro de Sustentabilidade (ISBN, 2019) traz algumas classificações quanto ao lixo, orgânico e inorgânico, e aponta que a coleta seletiva é ainda a melhor alternativa, uma vez que o orgânico geralmente é destinado a aterros sanitários e o inorgânico, enviado para descarte devidamente reaproveitado (com exceção da coleta de lixo especial, que compreende pilhas, lâmpadas, óleos, equipamentos eletrônicos etc.). É importante salientar que há o lixo que deve ser incinerado por não haver reaproveitamento: é o caso dos lixos hospitalares, resíduos químicos ou rejeitos.
Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, 2019), do lixo produzido, apenas 1,28% é destinado à reciclagem. Ainda, dados do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) apontam que 17 milhões de brasileiros não possuem a coleta de lixo nas casas, o que inviabiliza a coleta seletiva. E para onde o lixo vai? Os aterros sanitários estão abarrotados porque, além do orgânico, neles são depositados tantos outros tipos, o que é incorreto (claro!).
Existem inúmeras alternativas sustentáveis, cada vez mais contando com tecnologias de ponta para que passemos a poluir menos, extrair menos e reciclar mais, já em andamento nos diversos ramos da sociedade. Entretanto, precisamos refletir mais sobre o meu e o seu lixo. Quando o organizamos para a coleta seletiva (armazenamos o óleo usado para ser recolhido, levamos as pilhas e lâmpadas para as coletas especiais), é preciso entender que nossas ações não são “favores” aos coletadores! São em favor da vida (na verdade, fazemos a NÓS MESMOS, isso mesmo!). Tudo isso tem a ver com sustentabilidade.
Além de selecionar, é preciso que haja o destino certo, o que requer dos municípios a coleta seletiva sistematizada, com desenvolvimento de educação ambiental promovida pelas instituições afins junto à sociedade – aqui, valem também as parcerias com as escolas. O incentivo à criação de cooperativas locais, subsídio e acompanhamento agrega muito a essas ações.
Retomando o poeta, poderemos até escolher se o frasco de iogurte vai para o meu ou para o seu lixo, desde que seja feito o descarte adequado! Vale a pena reciclar, acreditemos (e ler o texto “O lixo” também!).
Prof. ª Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.