As mídias sociais trouxeram uma nova roupagem às eleições, alterando a forma como os candidatos se comunicam com os eleitores e, principalmente, como os votos são decididos. No passado, a campanha política se resumia em um montão de dinheiro público torrado com comícios, showmícios, impressão de santinhos e visitas a residências, a entidades e ao comércio. O tráfico de influência também era uma arma poderosíssima, pois, usando um privilegiado networking, um candidato poderia conseguir, mesmo que na ilegalidade, diversos tipos de vantagens para seus eleitores, conquistando votos direta e indiretamente.
Hoje, considerando a nova dinâmica imposta pela internet, isto é, a cultura digital e a hiperconectividade dos usuários, principalmente quando falamos das novas gerações, os candidatos tiveram que mudar suas estratégias. De certa maneira, isso foi positivo, visto que trouxe um nivelamento de forças, já que os grandes partidos sempre detiveram maior tempo de TV, ofuscando os pequenos. Entretanto, a crescente torrente de informações e notificações que recebemos a todo momento via aplicativos oculta uma guerra digital pela nossa atenção.
Estar sempre em evidência é um desafio para os candidatos, visto que os algoritmos que determinam qual informação será entregue aos eleitores é uma caixa preta e ninguém, exceto seus criadores, sabe exatamente como eles funcionam. Dessa forma, a principal estratégia é viralizar nas redes criando polêmicas (mesmo que vazias), usando frases de efeito, construindo narrativas, descontextualizando falas do adversário e, finalmente, distorcendo a verdade. Quanto mais polêmica, mais engajamento. E isso pode ser convertido em votos!
Quem parece ter entendido essa nova dinâmica da corrida eleitoral é o candidato à prefeitura da cidade de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB). O empresário e ex-coach, que é veterano das mídias sociais (e das polêmicas), num dos primeiros debates, entrou no estúdio com um boné estampado com a letra M. Para muitos jornalistas, estar vestido o boné foi uma atitude deliberada de desrespeito para com seus adversários e, obviamente, para com todo o processo eleitoral.
Nesse debate, Marçal atacou seus adversários usando linguagem inadequada, além de provocar com um gesto insinuante o candidato Guilherme Boulos (PSOL), sugerindo que o psolista seria usuário de entorpecentes. Em um outro debate, Marçal mostrou uma carteira de trabalho para Boulos, propondo que seu adversário jamais teria trabalhado na vida, sendo mais um “agente do sistema”.
Cenas como essas renderam milhares de memes e cortes nas mídias sociais, viralizando a figura de Marçal, colocando-o em evidência como o maior símbolo antissistema das eleições da cidade de São Paulo, mesmo que, de fato ele não o seja. O resultado foi uma surpreendente ascensão nas pesquisas de intenção de votos, colocando-o definitivamente na disputa do primeiro turno, junto com o Guilherme Boulos e Ricardo Nunes (MDB), que é o atual prefeito. Na pesquisa divulgada pela Quaest no dia 11/09, ficou evidente um empate técnico entre os três candidatos (Nunes: 24%; Marçal: 23%; Boulos 21%).
No debate do dia 15 de setembro, realizado pela TV Cultura, Marçal provocou o candidato José Luiz Datena (PSDB), que perdeu o controle emocional e o agrediu com uma cadeira. Datena foi expulso do debate, enquanto Marçal foi para o hospital.
E assim a campanha eleitoral ganha ares de um verdadeiro reality show, entretendo e não informando, enganando e não elucidando, reduzindo o processo eleitoral a uma briga de boteco, ofuscando aqueles que realmente têm algo a dizer. A máxima parece ser “A proposta é entreter, depois de eleito a gente vê o que faz”. Lamentável.
Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales