Há alguns dias, estive andando pelas lojas de Jales fazendo algumas compras com minha esposa. Em um dos estabelecimentos, enquanto fazia o sacrifício de esperá-la, pois fora abduzida pelo terrível devorador de horas, o provador, eu estava entre brincadeiras e vigilância de meu filho de 3 anos, quando um fato me chamou a atenção. Uma mulher entrou no estabelecimento acompanhada de seus dois filhos que, diferente do meu pequeno padawan, não davam nenhum trabalho. Sério! Os meninos, que aparentavam ter respectivamente 5 e 10 anos, ficaram sentados no banco totalmente quietos, cada um deles com um smartphone. A primeira reação do meu pequeno jedi foi se aproximar deles, que sequer notaram a sua presença. A segunda foi vir até mim e pedir o meu smartphone. Obviamente, a resposta foi um delicado, porém imperativo NÃO. Fiquei observando as “crianças zumbis” por um tempo: não reagiam a nada, não interagiam entre si, nem com o ambiente.
Graças aos constantes avanços tecnológicos, nossas vidas profissionais e pessoais se tornaram muito ativas digitalmente. Dessa forma, vivemos um momento em nossa cultura em que tudo se resolve rapidamente, visto que tudo está ao alcance de um clique ou de um toque. Assim, nos tornamos práticos e, principalmente, imediatistas nos mais diversos aspectos, inclusive com relação aos nossos filhos. A paciência e a interação social são artigos de luxo na sociedade da informação. Nossas crianças estão crescendo em um ambiente em que as coisas acontecem na hora em que elas desejam: para assistir ao desenho animado favorito, basta conectar ao Youtube ou Netflix; para falar com o amiguinho do colégio, a qualquer momento é possível enviar uma nota de áudio ou uma mensagem de texto via aplicativos de mensagens. Há muitos estímulos eletrônicos – jogos, vídeos, etc. O pior é que muitos pais não estão impondo limites à utilização de tecnologias. Assim, estamos contribuindo para a formação de crianças imediatistas, impacientes e dependentes de dispositivos eletrônicos. Obviamente, a utilização didática sob a supervisão de um adulto pode trazer muitos benefícios.
Há diversos estudiosos que defendem que a entrega irrestrita de tablets e smartphones às crianças menores de 12 anos pode acarretar diversos problemas a seu desenvolvimento, tais como: 1) dificuldade de concentração; 2) transtorno de déficit de atenção; 3) ansiedade; 4) agressividade: devido ao fato de assistir a vídeos ou utilizar jogos que estimulam comportamentos violentos; 4) problemas de saúde física: a perda de interesse no convívio social faz com que evitem brincadeiras físicas, o que pode levar ao sedentarismo e, consequentemente, à obesidade e a diversos outros problemas associados, inclusive à ergonomia, devido ao tempo em que uma postura incorreta é adotada para a utilização dos dispositivos.
Segundo o pensador Augusto Cury, a quantidade de estímulos que recebemos diariamente fez com que a velocidade do pensamento fosse aumentada cronicamente, o que causou um problema conhecido como SPA- Síndrome do Pensamento Acelerado. Cury destaca que “A ansiedade da SPA gera uma compulsão por novos estímulos, numa tentativa de aliviá-la. Embora menos intenso, o princípio é o mesmo que ocorre na dependência das drogas” (Pais Brilhantes, Professores fascinantes – Editora Sextante, 2003, pág. 52). Se nós adultos formados e conscientes estamos vulneráveis à SPA, imagine uma criança.
Durante as compras, confesso que tive problemas em interagir com os vendedores, pois estava o todo tempo chamando a atenção do meu filho que não largava da sua amiga curiosidade. Em nenhum momento, dei o smartphone em sua mão, pois, apesar de todo o trabalho, a cada bronca, eu estava reforçando a minha autoridade sobre a sua vida e, consequentemente, educando-o e interagindo com ele. Não podemos cair no imediatismo, principalmente quando o assunto é a formação dos nossos pequenos. Pense nisso!
Prof. Esp. Jorge Luís Gregório
Docente Fatec Jales “Prof. José Camargo”
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