Em 2010, Steve Jobs, fundador da Apple, contou ao jornalista Nick Bilton (New York Times) que o uso da tecnologia era extremamente limitado entre seus filhos. Mais tarde, Walter Isaacson relatou que nunca viu os filhos de Jobs com um iPad ou computadores durante as visitas que realizava na casa do empresário com o objetivo de escrever sua biografia. Da mesma forma, Evan Willians, um dos fundadores da rede social Twitter e das plataformas de conteúdo digital Blogger e Medium, se recusava a presentear seus filhos com um iPad, enquanto enchia o quarto deles com centenas de livros.
Além de Jobs e Willians, muitos outros “tecnocratas” já comentaram em diversas ocasiões que o uso da tecnologia é extremamente limitado em suas residências, o que parece ser uma contradição. Por que os maiores executivos de tecnologia do mundo parecem ser “tecnófobos” quando o assunto é o uso de dispositivos eletrônicos em seus lares? A resposta é simples: tecnologia vicia! Não a tecnologia em si, mas o que ela proporciona.
Já reparou que o feed de notícias do Instagram, Facebook, Twitter e outras redes sociais é infinito? Sempre há uma novidade, seja uma nova hashtag para clicar, uma nova foto para curtir e uma nova futilidade para acompanhar. A Netflix e outras plataformas de streaming de vídeo sempre pulam para o próximo episódio automaticamente, além de sugerir séries e filmes de que podemos gostar analisando nosso comportamento digital. Os jogos on-line têm um poder de persuasão incrível, visto que são capazes de se tornarem os substitutos virtuais de comunidades e relacionamentos. E o mar de notificações sem fim? Sempre nos persuadindo a verificar a última novidade, o último comentário ou a última reação sobre aquela foto postada.
Assim, passamos mais tempo do que deveríamos rolando o feed de notícias, completando missões e curtindo fotos e posts, desperdiçando tempo precioso, que poderia ser usado no trabalho, nos estudos e, principalmente, na vida pessoal. Para o cientista da computação Jaron Lanier, autor da obra Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais (Intrínseca, 2018), um dos objetivos das grandes corporações do século XXI é direcionar o comportamento das pessoas da maneira mais sorrateira possível. E eles conseguem!
Do outro lado da tela de seu game ou aplicativo favorito, há um exército de especialistas em tecnologia, psicologia, economia e diversas outras áreas que sabem exatamente como atrair sua atenção para gerar dinheiro e algo ainda mais importante: dados. Sim, é através dos dados comportamentais dos usuários que eles refinam suas técnicas de persuasão usando padrões de design, inteligência artificial e outras tecnologias de fronteira, aprisionando-nos em um ciclo vicioso.
Como revelado por Adam Alter, em sua obra Irresistível: Por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela (Editora Objetiva, 2018), as tecnologias modernas aumentaram os casos de “vício comportamental”, provocado não pelo uso de substâncias ou drogas, mas pela obsessão em eventos e atividades que confortam e trazem prazer. Postar fotos diariamente na expectativa de comentários e reações positivas, cumprir metas diárias de um aplicativo ou game, entre outros não são necessariamente vícios comportamentais. O que define o vício é o quão dependente você está e, principalmente, se isso está prejudicando sua vida profissional e pessoal.
Nesse sentido, é necessário realizar uma autorreflexão e conhecer a máquina de manipulação por trás das telas. Segundo Adam Alter, “a tecnologia não é moralmente boa ou ruim até ser controlada pelas corporações que a produzem para o consumo de massa. Aplicativos e plataformas podem ser projetados para promover ligações sociais frutíferas; ou, como cigarros, podem ser concebidos para viciar”. Pense nisso!
Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Docente da Fatec Jales
www.jlgregorio.com.br