Toda língua é carregada de expressões idiomáticas que, cá entre nós, só com vivência e pesquisa para compreendermos seus significados além da literalidade. Elas são constituídas por palavras que, aos se juntarem, ganham novos significados. Com o objetivo de enfatizar um pensamento, dar maior leveza, trazer humor ou ironizar, as expressões vão ganhando espaço no dia a dia das pessoas, tanto que, sem entendermos muitas delas, “ficamos a ver navios”.
Quanto ao surgimento, elas estão concatenadas com a vida do homem em sociedade, ou seja, elas surgem, muitas vezes, ancoradas num acontecimento histórico e viralizam. Sem autoria, trazem em si significados morais, filosóficos e religiosos, semelhantes aos provérbios. São utilizadas tão naturalmente, mostrando que estão incutidas em nós. A obra Sagarana, de Guimarães Rosa, ilustra bem essa materialização das expressões brasileiras; críticos e analistas da obra a consideram de difícil leitura pela engenhosidade das palavras. O dicionário de expressões idiomáticas do pesquisador e escritor Hudinilson Urbano já anuncia desde a capa "desatando nós " (são complicadinhas mesmo!).
Sobre o assunto, a revista Superinteressante (2016) trouxe uma pesquisa sobre a origem de algumas expressões idiomáticas brasileiras: AMIGO DA ONÇA, expressão criada pelo cartunista Péricles Maranhão - se referia a uma figura debochada e irônica, conhecida por colocar as pessoas em situações desagradáveis, com o objetivo de tirar proveito delas; CHORAR AS PITANGAS: o surgimento deu-se no contato dos portugueses com os índios, e, na convivência, a expressão portuguesa “chorar lágrimas de sangue” foi abrasileirada, trocando sangue por pitangas (pyrang = vermelho); OLHA O PASSARINHO: surgida no século XIX, quando as câmeras fotográficas ainda não dispunham da tecnologia atual e ficava-se quase 15 minutos ali, parado, para que fosse fotografado. Para as crianças então se distraírem, colocava-se uma gaiola com um passarinho atrás dos aparelhos fotográficos e pedia-se que olhassem para o bichinho... E por aí vai!
Estudiosos de línguas outras, não raras as vezes, até adquirem livros que tratam das expressões idiomáticas para estudos mais aprofundados; entendem que as línguas vão tecendo estruturas que remetem a significados muito além daqueles "convencionais " trazidos pelo dicionário, principalmente os denominados "de bolso” ou “minidicionários".
Pois bem, essas são algumas das inúmeras expressões que passeiam entre nós e se encarregam de brincar com as palavras e conosco também, uma vez, sem compreendê-las, até julgamos os textos orais e escritos como SEM PÉ, NEM CABEÇA!
Por serem de caráter informal, é preciso cautela ao usá-las: se a comunicação exige objetividade, as expressões não seriam pertinentes pelo caráter implícito; ainda, elas necessitam de um contexto, daí, nem sempre o ato comunicativo permite todo o esclarecimento e pode gerar ambiguidade. É preciso também pensar em quem seria o interlocutor da mensagem– nem todos estão “alfabetizados” nelas. As interpretações equivocadas ou sem soluções podem terminar em pizza (os palmeirenses devem conhecer bem a expressão!).
Prof. Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.