Entre os principais atributos que proporcionaram ao ser humano assumir o posto de espécie dominante no planeta, sem dúvida, a criatividade desponta como fator primordial, não somente pelo contexto da resolução dos problemas e desafios advindos ao longo da história, mas, principalmente, pelo mecanismo evolucionário da nossa espécie.
Se pensarmos em problemas existenciais que desafiam as soluções mais óbvias, a criatividade é a ferramenta que permite transcender o senso comum básico, criando, adaptando, readaptando, inventando e reinventando o novo. Em uma visão disruptiva, é o chamado “sair da casinha”!
Mas, infelizmente, ao que parece, nesse quesito o Brasil não caminha bem. Na contramão do dito popular que rotula o brasileiro como “povo criativo” ou “dessa vez, a Nasa vem estudar o brasileiro”, meme popularmente utilizado para enfatizar a eventual criatividade nacional, o país enfrenta uma carência muito perceptível de mentes criativas entre os jovens.
Pelo menos é o que diz o último teste do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), tradução de Programme for International Student Assessment, realizado em 2022, que mensurou, além do conhecimento em matemática, leitura e ciência, as habilidades e competências referentes à criatividade para a resolução de problemas científicos e sociais.
Segundo os dados apresentados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais da metade dos alunos brasileiros de 15 anos (54,3%) apresentaram um baixo nível de criatividade ao tentar solucionar problemas sociais e científicos, deixando o país em 44º lugar no ranking dos 56 países que participaram do teste. A pontuação média dos alunos brasileiros foi de 23 pontos, sendo a média mundial de 33. Cabe ainda ressaltar que o pior desempenho nacional foi na resolução de problemas científicos.
Num primeiro momento, poderíamos pensar que tal condição não seja assim tão relevante, afinal, existem outras habilidades importantes como as esportivas, culturais ou, até mesmo, tecnológicas, nas quais a nação se destaca. No entanto, as consequências dessa condição vão muito além do simples “destaque”: representam, sim, uma questão de sobrevivência.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, globalizado e exigente com jovens e jovens adultos para o ingresso no mercado de trabalho e, principalmente, permanência nele, desprezar a criatividade é abrir mão da ferramenta mais valorizada pelas empresas e, talvez, por toda a humanidade.
É imperativo que as autoridades responsáveis pela educação em todos os níveis, municipal, estadual e federal, entendam a importância que o estímulo ao desenvolvimento da criatividade no ensino básico, superior e até mesmo na pós-graduação representa para o país.
Não pode ser aceitável que qualquer política de educação neste país ignore essa premissa. Pelo menos sejamos criativos com essas políticas.
Prof. Dr. Evanivaldo Castro Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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