O artigo publicado na edição da semana passada, “Criatividade em baixa no Brasil”, utilizou argumentos relativamente pessimistas sobre a criatividade do jovem brasileiro, embasados em um teste global, denominado Pisa, usado como parâmetro de comparação na área da educação por diversos países. Em uma primeira e rápida leitura, o texto apontou para uma situação caótica irreversível de grande preocupação para o futuro da nação.
Entretanto, ao término, ele mencionou a necessidade de políticas, principalmente desenvolvidas pelas entidades públicas do país, com o objetivo de incluir tal premissa nos projetos educacionais.
Apesar da aparente complexidade dessa missão, a criatividade pode sim ser ensinada, praticada e fomentada entre as crianças, jovens e jovens adultos (na verdade, em qualquer faixa etária). Por vezes, ouvimos que “tal pessoa é criativa por natureza”, mas será que, ao longo de sua vida, essa “criatividade nata” não passou por vários estágios de maturação?
Lembremos de nossa infância (principalmente a dos nascidos no século passado). Quando não tínhamos condições de ter um certo brinquedo, buscávamos uma alternativa, como criar nossos próprios carrinhos, por exemplo, com objetos comuns (latinhas, pedaços de madeira, potes descartados, tampinhas de garrafa etc.). E para vários outros tipos de brinquedos (ou brincadeiras), não criávamos nossas bonecas, bichinhos de estimação, jogos diversos, pipas e muitas outras formas de diversão?
Nesses inocentes processos de criação, muitas vezes transcendíamos alguma barreira considerada difícil. Por vezes, íamos além, criando não somente o carrinho, mas o caminhãozinho, o posto de combustível, o lava a jato, a garagem, enfim, tudo o que nos parecesse adequado ao contexto da brincadeira.
Isso nada mais é do que exercitar a criatividade. Buscar elementos para a construção, improvisar, inventar elementos representativos ou físicos, criar ações e roteiros para as brincadeiras, enfim, criar!
Graças a esse tipo de brincadeira, muitas crianças se tornaram designers de produtos, estilistas, atores, atletas, mecânicos, engenheiros, pintores, construtores e uma infinidade de profissões que requerem algum tipo de senso de criatividade (muito provavelmente, todas as profissões!).
Nos tempos de escola, quando tínhamos que escrever uma redação, diversas habilidades eram utilizadas e desenvolvidas, como de escrita, leitura, interpretação e, claro, criatividade. Pegar uma folha de papel em branco e criar uma história, seja ela um romance, uma ficção científica ou mesmo uma odisseia, não é uma fantástica fábrica de criação que podemos alcançar?
Sabemos, claro, que a era atual é muito envolvida em tecnologia e parte dessa narrativa certamente ficou no passado. No entanto, mesmo no universo tecnológico, esses conceitos podem e devem ser utilizados, seja em jogos digitais ou em outras plataformas que permitem o livre e bom exercício da criação. Isso posto, o que nos falta então?
Prof. Dr. Evanivaldo Castro Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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