Com o avanço da internet e, com ela, de todas as mídias digitais, o acesso à informação se dá por muitos canais. Temos acesso a tudo: desde a notícia trivial sobre o clima às descobertas mais recentes que acontecem do outro lado do mundo, e, dentre elas, há sempre algo que salta aos nossos olhos. Nós, seres humanos, produtores mas também consumidores desse vasto sistema capitalista, muitas vezes, nos perdemos do que é realmente essencial em meio aos supérfluos que nos rodeiam. Assim, muitos estudiosos tentam explicar o comportamento humano diante desse universo e como justificamos nossas escolhas.
Sim, fazer escolhas! Vivemos escolhendo e nem sempre conseguimos justificá-las, pelos menos aos olhos de “quem nos pede explicações”. Quem nunca saiu de casa apenas para buscar um medicamento na farmácia, aquele de sempre e, ao passar em frente a uma loja em promoção, parou só para dar uma espiadinha e chegou de volta, em casa, com algo mais, além do item farmacêutico? “Bem, aconteceu.”
Maslow, psicólogo norte-americano, em um dos seus estudos, divulgou uma pirâmide intitulada “Teoria das Necessidades Humanas”, semelhante à alimentar, mas voltada ao comportamento humano. Ela é dividida em cinco estratos: na base, ficam as necessidades fisiológicas; depois, as necessidades de segurança; em seguida, as sociais; as de estima e, por último, as de autorrealização. As divisões podem ainda ser arranjados em três grupos maiores – os das necessidades básicas, as psicológicas, e o da realização pessoal.
O pesquisador pensou as necessidades do ser humano numa relação hierárquica, ou seja, que cada pessoa, dominada uma necessidade, sente-se segura para avançar para a próxima. Mas será que ela tem funcionado na dinâmica em que está posta, ou melhor: nós, seres humanos, estamos conseguindo seguir a lógica proposta?
Com a expansão industrial ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, houve também uma aceleração no nível de consumo ancorada na publicidade, nem sempre de forma positiva. Somos bombardeados, cotidianamente, pelas comunicações de massa e das redes sociais, nos persuadindo ao vislumbrar o consumo como fonte de felicidade.
“Ser feliz”, na perspectiva capitalista, em muitos casos, faz com que se burle a pirâmide de Maslow, justamente porque nem sempre muitos conseguem “realizar” a base da pirâmide, o princípio básico da dignidade humana, e partem para o topo da pirâmide, na ilusão de mostrar ao outro que tudo está bem – compro um celular robusto, uma calça de grife famosa, um perfume X, enfim, posto fotos nas redes sociais como uma pessoa altamente autorrealizada.
Nossos “deslizes”, sem dúvida, são comemorados pelos empreendedores, haja vista que gastamos acima do que podemos, compramos além do que precisamos, descartamos muito mais do que reciclamos. Não podemos negar que a compulsividade está estreitamente articulada à ansiedade; vivemos sob pressão e as nossas emoções têm imperado sobre a nossa a razão.
O que dizer, então, da inversão/transgressão da posição das necessidades tão bem delineados por Maslow em sua pirâmide? Sem absolvição ou condenação. Nem sempre o que é “realmente” essencial é relevante para nós num determinado momento; a meta, em algumas situações, é a garantia de nos externarmos visualmente bem ao outro, para que então, com uma boa imagem, possamos ter a chance de competir num mercado absurdamente materialista (triste, não é?). É preciso burlar a pirâmide para poder segui-la.
Prof. Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.